Wednesday, September 11, 2013

Até sempre...

E eis que no dia 10 de Agosto fechei um ciclo de 14 anos. Finalmente a após estes anos consegui ir a casa dos meus avós em Mangualde. 
Desde que eles me deixaram, não conseguia ir mais longe que o início da rua.
Mesmo aí, era doloroso , pois a imagem da avó Aida na janela era demais e fazia sentir uma dor que não se explica por palavras.
nesse sábado, decidi que tinha de ir lá... porque amnhã poderia ser tarde demais.
Fui com a Maria.
Ela, pequena, queria saber mais os porquês, os significados daqueles de quem ouve falar tanto.
A voz quase não saía para explicar o que estava por detrás de cada janela.
Para ela ficaram as divisões da casa. Para mim, cada janela carrega histórias e momentos que guardo eternamente no coração.
No quarto dos avós, o saltar para a cama deles e conversar com o avô, atender os telefonemas, ver a avó a pentear o seu cabelo ou o avô a fazer o nó da gravata.
A casa de banho da benheira grande de pés, que era tão fria e que sempre tinha o grande aquecedor no inverno para os banhos.
A grande sala que albergava as festas de família e que cheirava sempre a chá. O grande relógio que agora mora comigo e continua a marcar as horas da minha vida.
O terraço que albergou brincadeiras de primos e conversas de família sob o sol de verão.
O sotão de escada em caracol que sempre me fascinou e que só guardava pó e teias que o tornavam misterioso.
A sala do avô trabalhar que guarda as suas histórias que sempre nos contava e tem impressos os passos de um homem honrrado que amou a sua família.
O corredor que foi pista de corridas dos netos e autodromo de tricíclos.
A sala de almoço...ponto central da vida da casa. É trabalhada com rendas, cheiros e sons. rendas da avó, cheiros de sabores que não se esquecem e sons do bandolim do avô, que se fechar os olhos ainda consigo ouvir.
O quintal que guarda a imagem do Nilo, dos gatos e das árvores de fruto. Agora tudo entrelaçado com plantas que teimam em querer crescer e apagar o pouco que resta. Já nem há o quintal do "Fonseca"..."Funfeta" na boca dos mais novos  que era destino dos brinquedos caso a sopa não se comesse.
Agora aí mora o progresso.
Bati a porta...o batente devolveu o som familiar que ainda mora em mim, mesmo depois de 14 anos.
Queria ter batido com mais força e que a porta se abrisse e eu podesse percorrar toda a minha vida naquela casa.
A campainha já não toca...nem sequer dá para espreitar na caixa do correio.
As cortinas feitas pela avó teimam em continuar na janela, como que para me lembrar que um dia, no n.º 32 da Rua de Nossa Senhora do Castelo eu fui feliz! Eu fui muito feliz!
Subi a rua com a Maria. Alíviada. Calma. Feliz.
Olho para trás e sinto que lá dentro, na sua sala, o avô arranja os relógios. E à janela, a avó Aida está a dizer-me adeus.